quarta-feira, 1 de junho de 2011

Tenham dó

As últimas semanas, em particular as duas últimas, foram pobres, tão pobres que meteram dó. O que lemos, vimos e ouvimos leva qualquer Pitonisa a profetizar que os anos vindouros são o reflexo das prestações politicas em pré-campanha e campanha. Este dia de reflexão provoca uma sensação de vazio, a sensação daquela estranha calma prenuncio da mais pavorosa tormenta.
Nunca nas quase 4 décadas de democracia em Portugal houve intervenções políticas tão fracas, tão carentes de soluções para o país, tão falhas de criatividade. E porquê? Porque desta vez, perante o espartilho de constrangimentos financeiros e orçamentais que vai balizar a actuação governativa era necessário algo mais dos proponentes partidários. Era preciso ser-se politicamente sério, ser-se realista, ser-se criativo, ser-se estadista em suma. Tudo predicados há muito engavetados.
Alguns disseram por estes dias que agora é a sério para tentar reforçar a importância do ato eleitoral de domingo, o que leva a concluir, também sem surpresa, que o voto tem sido desconsiderado.
Quanto á plebe já sabe: vire-se para onde se virar o cenário presente e para o futuro está montado pela “troika”, o resto tem sido musica, ainda por cima fora de tom.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Duas metades

A classificação do antigo Sistema de Abastecimento de Águas á cidade de Braga - cuja construção data do século XVIII - como monumento nacional é uma vitória dos bracarenses e da cidadania. Uma cidadania expressa através de um conjunto de pessoas em diversos movimentos associativos, blogs, ou em outras formas de expressão da opinião, que pugnaram para que a protecção e classificação das Sete Fontes fosse uma evidência irrefutável. Foi a vitoria de uma atitude de cidadania que em muito momentos da vida da cidade tem estado arredada, ora por comodismo, ora por falta de amplificação das causas, ora ainda pelo enraizamento de uma mentalidade do “deixa andar” a que não será alheia a existência de uma tutoria politica de várias décadas. Saúda-se por isso a perseverança de quem envolveu na “ luta” pela classificação das Sete Fontes como Monumento Nacional. Braga e os bracarenses ficam a ganhar em termos de património construído e natural. A classificação das Sete Fontes não é contudo um ponto de chegada mas antes um ponto de partida.
Ultrapassado um necessário obstáculo burocrático, cabe agora aos actuais responsáveis políticos da cidade, articulados com o entidades do Ministério da Cultura, revitalizar o monumento e dar-lhe contornos para a sua fruição pela população. É caso para afirmar e pedir para as Sete Fontes, que não se sequem as vontades até porque o passado e o presente são as duas metades da vida: a primeira diz nunca e a outra diz para sempre.
    
                                                  
                                                                            

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Fra(n)queza


Mais do que nunca pede-se franqueza aos políticos. Se houve ou há algum momento na era da democracia no país em que essa oportunidade deve ser aproveitada para uma reconciliação com os portugueses, esse momento de franqueza e não de mais uma fraqueza que é a ocultação da verdade, são as próximas eleições legislativas. Os políticos aprendem rapidamente que a franqueza é um bem caro, na vida pública.
Do que temos lido e ouvido até agora, a sensação é de que a pré-campanha tem se revelado mais uma enumeração dos erros do passado, aqui e ali com o discurso politico polvilhado de conteúdos técnicos que a maior parte de nós não percebe e de um discurso politiqueiro pouco adequado ás circunstancias actuais do país.
Mas os sinais estão aí, assentes na frieza dos números. No final da passada semana nada mais esclarecedor do que a constatação da recessão já nos primeiros três meses deste ano e de um aumento do desemprego para 800 mil pessoas em 2012. Estas e outras previsões economicas que vão caindo como certezas no nosso quotidiano deixam antever consequencias imprevisiveis na reanimação do país, têm surgido no discurso de alguns como algo perfeitamente normal e até compreensível.
A mentalidade prevalecente dos partidos neste momento como em outros que nos conduziram a este "estado de sitio" parece continuar a estar de acordo com um provérbio italiano que diz ser preferível perder a sela do que perder o cavalo.


                               

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Alarme

Jacques Delors, presidente da Comissão Europeia durante uma década, escrevia que rejeitava uma Europa que fosse apenas um mercado, uma zona de livre troca, sem alma, sem consciência, sem vontade política, sem dimensão social.
 Se fosse essa a direcção tomada, lançaria um grito de alarme. Não sei se Delors fez ecoar o tal grito de alarme, mas certamente que a Europa caminhou a passos largos na direcção que o presidente da Comissão Europeia entre 1985 e 1995 receava. Caminhou a Europa como um todo, caminharam os países, uns mais que outros.
A falta de líderes nacionais carismáticos e por arrasto na Europa Comunitária, a incapacidade, talvez até mais a submissão dos governos ao poder financeiro que adquiriu nesta década mais do que anteriormente, uma estirpe especulativa para a qual tem contribuído em especial uma Alemanha que não perde os tiques hegemónicos de má memória; podem ser apontadas como algumas das causas mais profundas para os tempos que vivemos.
Há novas realidades que não devemos ignorar: o mercado de trabalho, as regalias sociais, que foram duramente conquistadas e que agora estão a esvair-se por entre os dedos - porque se diz que os tempos mudaram, sem explicar porque mudaram e quem os fez mudar - estão numa profunda mutação e nada será como antes. O caso de Portugal é por isso paradigmático. É que já nem sequer estamos a caminho daquele modelo da Europa que Delors renegava. Como país já lá chegámos, apesar dos gritos de alarme que se ouviram durante o percurso

Primeiro Mundo

Um dos indicadores de uma sociedade mais justa é a maneira como trata os menos favorecidos. Reconhecemos sem grande dificuldade que tal indicador continua a ser hoje, apesar dos muitos avanços civilizacionais, cada vez mais difícil de atingir contrariando algumas expectativas que apontavam nesse sentido á poucas décadas atrás. Se quisermos colocar as coisas ao nível da pobreza - não da mendicidade ou da indigência - constatamos que ser pobre no terceiro mundo é completamente diferente, desde logo devido á disparidade económica e histórica, que ser pobre nas sociedades ocidentais.
Os problemas que afectam os pobres do terceiro mundo estão interligados com a necessidade de sobrevivência: ter água, alimentos e acesso a cuidados básicos de saúde.A guerra, a corrupção ou desastres naturais contribuem para agravar a situação.

A pobreza no “nosso primeiro mundo” é relativa e passa muito pelas comodidades da vida. Não ter telemóvel, carro computador ou outros “i tecnológicos”; não ir a restaurantes, não fazer férias fora de portas ou estar-se privado de outros hábitos mundanos, são sinais relativos de uma pobreza específica na nossa sociedade e até de exclusão social.
Alguns pensadores contemporâneos afirmam que é através da posse de coisas que interpretamos e conferimos coesão ás sociedades do “primeiro mundo”.